sexta-feira, 20 de fevereiro de 2009

Este é o estacionamento da "Quinta da Terrugem" conjunto de prédios onde moro. Há um gramado logo ali em frente ao mar, onde as vezes jogamos bola e fazemos pic nic.

quinta-feira, 19 de fevereiro de 2009

torre amarela


Esta pequena baia é em Paço de Arcos, uma "vila"ou freguesia a 10 minutos de Lisboa. Este prédio amarelo (também torre, em Portugal) é onde moramos.
Vista de um dos quartos do nosso apartamento


"Ó mar salgado, quanto do teu sal
São lágrimas de Portugal!
Por te cruzarmos, quantas mães choraram
Quantos filhos em vão rezaram!
Quantas noivas ficaram por casar

Para que fosses nosso, ó mar!
Valeu a pena? Tudo vale a pena
Se a alma não é pequena.
Quem quere passar além do Bojador

Tem que passar além da dor.
Deus ao mar o perigo e o abismo deu,
Mas nele é que espelhou o céu. "

Fernando Pessoa

Batuque Matutino

O Babi é músico, baterista, percussionista. Para quem não convive o suficiente com ele, tenho que dizer que quando ele lava uma panela, mais presta atenção aos sons que ela faz ao bater de leve na pia, do que no fato de deixá-la limpa. " Escuta esse som, tum, ton, tim, téin, nossa.... ouviu isso"? Enquanto as pilhas de louça ou loiça aumentam, a diversidade de sons também. Apesar de as vezes um pouco irritante se tem muitas pessoas na sala esperando as louças serem lavadas para voltarem a mesa para receberem a sobremesa, também esta percepção dele é única e traz para a vida alegria e ...ritmo! Este video é num Starbucks em Sevilha. Os filhos não escapam do batuque...


Saudades de Portugal - o quase retorno

Depois de recolher, guardar, arrumar as coisas todas nas malas, despedir de todos, chorar, resistir, querer ficar e ir, pegar a estrada, chegar no aeroporto, fazer o check in, tomar mais um lanchinho querendo prolongar os minutos restantes com os meus pais, passar as bagagens de mão na maquina que enxerga tudo e diz se não há qualquer coisa que possa matar alguem no avião, entrar no corredor de brasileiros saindo do pais.... epa epa.. não... calma, não é assim tão fácil. Falta um documento. A Policia federal olha meus papeis, as crianças e me diz que vai apenas checar uma coisinha. Depois de esperar 20 minutos em pé com as crianças impacientes fazendo mil perguntas sobre porque estávamos parados e nao indo para Portugal, vem um agente oficial e me informa que a autorização feita pelo meu marido em Portugal (em cartorio portugues, porque é lá que moramos e para lá eu voltaria com os filhos para encontrá-lo e voltar a viver com ele) não valia nada. Não existia nenhum acordo entre Brasil e Portugal e que eu deveria tentar falar na Delegacia da PF lá na outra ponta do aeroporto, ou na PQPariu.

Faltavam 40 minutos para o avião sair e eu peguei firme na mãozinha do Léo, falei para a Luiza acompanhar o meu passo e praticamente nós três voamos para o outro lado do aeroporto de cumbica, desviando dos obstáculos ou das pessoas que apareciam na nossa frente a passo de tartaruga só para nos atrasar ainda mais. Chegando lá encontrei 4 ou 5 policiais federais preocupados com um assunto muito mais importante que o meu, algo sobre um cadáver, desencarnado, morto (ou qualquer nome que se queira dar para nossa carcaça ou templo) que deveria viajar em caixão. Parece que não havia condições legais para isso e seus parentes junto com os policias tentavam achar uma forma, uma brecha na lei para tornar isso possivel. Nao me perguntem os detalhes, nao tenho ideia do que estava realmente acontecendo, mas senti meu problema mais insignificante.

Depois de esperar um tanto, uma policial "simpatica" olha para mim com ar de desprezo por 3 segundos e já voltando a atenção para o problema do morto, pergunta o que eu queria. Começo a falar, mas percebo que ela nem me escuta, continua a prestar atenção no que se falava sobre o morto. Espero entao o tempo dela, peço paciencia, olho no relógio, respiro, peço para o Léo ficar perto de mim e parar de mexer na cortina imunda da janela e então ela volta a atenção para mim. "Pois Nao?"
Explico o que esta acontecendo pela segunda vez, mostro a autorização do Fabio, mostro os passaportes com o protoloco dos cartões de residencia em Portugal, mostro a passagem de ida e volta e ...: "esta autorização não serve". Eu digo " por favor, há algo que voce possa fazer para facilitar a minha vida? Meu aviao sai em 20 minutos, meu marido fez esta autorização em portugal por um cartorio sério, reconhecido, nós todos moramos lá e ele daqui a algumas horas estará indo nos pegar no aeroporto em Lisboa" ..

" Este documento nao serve. Ele tem que ir no consulado do Brasil em Portugal e tirar a autorização pelo governo brasileiro" Diga se de passagem que qualquer coisa que voce vá fazer no consulado do Brasil em Lisboa, é algo que leva no minimo um dia inteiro para você dizer o que quer, mas pode demorar semanas, meses para se conseguir o que quer, dado o numero enorme de brasileiros que moram em Portugal e que necessitam dos serviços do consulado. Então outro oficial atende o telefone "SIm, ela esta qui na minha frente" - Era a moça da TAP, " Graziela, que cores tem as suas malas? Estamos retirando elas do avião" . Bosta caralho , puta que pariu, vai pro inferno, pensei.

Liguei para meus pais que estavam voltando para Campinas e perguntei se eles aceitavam devolução, porque eu tinha sido impedida de embarcar, de encontrar o meu marido, de ir para minha casa em Portugal. Meu pai me tranquilizou, me apazigou com palavras que realmente me trouxeram paz, alegria, sentimentos de amorosidade. Fiquei aliviada e feliz de ter pessoas a quem recorrer e nao ter que passar uma noite ou duas nos bancos do aeroporto com duas crianças (coisa que já tentei fazer sozinha num aeroporto em Londres para economizar hotel quando tinha 20 anos, mas que não consegui porque as cadeiras não eram muito confortáveis para dormir uma noite inteira).


Agora, de volta a casa onde morei por 20 anos, e para a qual ainda me refiro esporadicamente e a contra gostos como "lá em casa" minha cabeça está girando como um peão descontrolado. Nao aquele peão que roda no eixo, mas aquele que é lançado de forma desequilibrada rodopeando cambaleante e abobalhado.

A maior parte da minha mente e talvez o meu perispirito, corpo sutil, (ou qualquer outro nome que se queira dar para este corpo nao tão denso que fica próximo do corpo visto a olhos nus, desta a carcaça ou templo), ja estavam em Portugal, na minha casa, com o meu marido, com meus afazeres diários, com meus projetos de trabalho. De repente o país tropical, quente, aconchegante, confortalvel, familiar, pareceu fora de contexto, vazio.....

Mais uma semana a espera do documento e de vagas nos assentos daquelas maquinas que levantam só Deus sabe como, e que nos levam pelo ar para bem longe da partida, onde os corpos não mais conseguem se encostar e onde o mais próximo contato é através de outra máquina que mostra imagens dos outros distantes, só Deus sabe como. Eu nao sei mesmo, não entendo, meu cérebro nao acompanha, assim como tambem não acompanhou a decisão dos policiais.

Como eu tendo a acreditar que nada acontece por acaso, como eu tendo a acreditar que estou entregue a decisões de forças superiores que as vezes são compativeis com as minhas e outras nao, como tendo a acreditar que existe lógica no aparente ilógico, seja eu maluca, ignorante, crente, esquizofrenica, muito lucida ou tudo junto, estou agora digerindo e respirando neste vazio. Começo a querer fazer planos de cinema, livros, piscina, visitas, novos e antigos encontros. Mas ainda vazio, vontade de nada. Tudo outra vez, de novo, again, ......puxa, foi tão dificil se despedir, desapegar, ir embora, partir, deixar e agora... tudo de novo. Desarrumar malas, guardar roupas, voltar os shampoos e cremes no banheiro da casa da minha mãe, que saco e que delicia... ....................................................................
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