terça-feira, 25 de agosto de 2009

ELEGANCIA NA PRAIA

Calor, verão, férias. Nada de ficar reclamando dentro de casa por isso ou aquilo. Vamos à praia, aproveitar os últimos dias de calor. Por enquanto estamos vivendo à beira mar e nos sentimos até estranhamente caiçaras. Vamos honrar esta oportunidade única, como bons brasileiros, acostumados a isto, a praia, a calor, a samba e farofa.

Cuidadosamente, coloquei dentro da uma geladeira térmica uns biscoitos de polvilho dados pela vovó Lucia, umas cenouras raladas, duas maças, uma bolacha tipo Maria, suco de caixinha, um pano de prato e 4 cervejas geladas. Como não havia aqueles troços de gelo para manter o frio da geladeira, coloquei umas pedrinhas de gelo dentro de um saco plástico e esperei que ele desse conta de não deixar a cerveja ebulir pelo menos. Pus fatos de banho nas crianças, em mim e fomos os quatro para a praia às 3h da tarde. Um sol de rachar. O guarda sol nós nao tinhamos, e nunca pensamos em ter..mas foi preciso comprar um de ultima hora. Vendia-se na rua e o Babi comprou de um camelô. Para que quebrasse logo, eu já estava preparada.

Chegando na praia dos Gemeos, entupida de gente, de sol e de areia, quase voltamos para tras. Na verdade eu nao gosto muito desse sol quente, nem de areia. Gosto de água, mas não agua semi congelada como a daqui. Enfim, pelas crianças, pelo verão, pelas ferias, estavamos la, como uma familia comum. Olhamos um lugar perto do mar para as crianças brincarem com a areia húmida. Achamos um cantinho e ao começar a enfiar o guarda sol na areia mole como quem nunca fez isso antes, a senhora ao lado, mais parecida com uma baleia craquenta, nos disse que estávamos sendo desrespeitosos por atracar nosso acampamento tão próximo a ela. Estavam todas as pessoas tão coladas, tão grudadas, nao havia mais espaço publico e privado, mas enfim, ela nao queria que nada invadisse sua bolha virtual protetora. Fomos embora dizendo sim para vossa majestade, dizendo alto e de costas como criança, que ela se achava a dona da praia.

O vento estava um pouco forte e surpreendia em inesperadas rajadas. Dois passos para cima enfiamos o guarda sol na areia, esticamos as toalhas, tiramos os baldinhos de brincar das sacolas e ficamos em pé olhando aquilo, esperando o guarda sol alçar vôo de uma vez e as toalhas pararem de querer se engruvinhar ainda mais, acumulando areia em cima até quase sumirem aterradas, ou melhor areiadas. Como uma familia daquelas do interior do brasil que nunca pisou em praia e que nao sabe como manter uma toalha esticada ou um quarda sol firme, ou as coisas em ordem, sem avançar nas coisas dos outros, eu sentia assim a minha. Para nao voar o guarda sol vagabundo e já quebrado, cujo chapeu estava nao mais que 40 cm do chão, sentei me curvadamente para ficar segurando o cabo para que nao voasse. Enquanto eu ridiculamente fazia isso, o Babi foi ao mar com as crianças e eu fiquei ali uns 30 minutos, com o sol ardido nas pernas que estavam para fora da sombra e com a boca seca pedindo agua. Como a outra mão nao alcançava a geladeira, quando o Babi chegou do mar, fui logo abrir uma cerveja quentinha e ele ridiculamente entrou no meu lugar para segurar o guarda sol. Tendo esquecido abridor de garrafas, abri-a entao na porrada contra uma ponta da propria geladeira. Como a Miss. Bean, me fiz orgulhar da temperatura quente pela qual tanto eu tinha esperado propositalmente. AHHHH que delicia. Só assim para aguentar o resto.

Minha vez de ir ao mar com a Luiza. Desta vez me dei bem, achei que molharia os dedos dos pés e quando vi estava até a barriga. O que entrava no mar nao mais se sentia. Sumia. Mas estava gostoso: me sentia forte, corajosa, tranquila, mas ainda farofenta. Fiquei assim com a Lu durante um tempo, barrigando elegantemente as ondas que vinham de leve cumprimentar e dizer que suas aguas nao eram assim tão insuportaveis. Depois de alguns arrepios de frio e lábios roxos, voltamos à areia e lá ficamos, comendo biscoitos de polvilho e apreciando o povo portugues: velhas de top less mostrando seus peitos antigos, flácidos e sem pudor, uns casais de namorados que tomavam sol juntos, amarrados entre braços e pernas, areias e alguma paixão (penso eu), uma mãe desesperada mas determinada a ficar na praia com seu bebe de colo enfurecido e semi recem nascido que berrava e negava peito, chupeta ou chocalhos, a baleia nervosa que agora tinha se acalmado e parecia ter encalhado de vez na areia, e outros reles mortais que curtiam a praia como nós. Quando o sol baixou e ficou lindo, perfeito, com aquela cor laranja iluminando as coisas e tornando belo até o que é feio, fomos embora de tanta fome e cansaço. O saldo foi positivo, aprendemos algo sobre o que não fazer na praia e o que fazer. Bons guarda sóis, de preferencia colocados com a curva do chapéu a favor do vento, pouca farofa, abridor de garrafas, gelos artificiais e horario de sol quase cor de laranja. Alguns palavrões guardados especialmente para baleias encalhadas também ajuda.